Guarani celebra Dia do Índio
                com Semana Cultural e AÇÕES JÁ!


Jaci Gonçalves, Professor da Unisul

Quando chegou 19 de abril de 2012, o Dia do Índio, a aldeia Guarani Itaty da Terra Indígena do Morro dos Cavalos já estava animando a VII Semana Cultural PEJU KATU NHEMOMBARAETE (Venha se fortalecer!) iniciada no sábado, 14 de abril de 2012 com um grande mutirão de limpeza AÇÕES JÁ.

Mergulho Endocultural: autoestima e autonomia

Em termos científicos, a antropologia cultural designa essa iniciativa guarani como de endoculturação. É a própria cultura dialogando consigo mesma, se pegando no colo, se fortalecendo, como diz o título da Semana Cultural. Noutras palavras, é "um mergulho endocultural" que resulta em crescimento de sua autoestima e autonomia.

De fato, pode-se observar na programação que todo o evento é embalado no inicio e no fim de cada dia pela liturgia mântrica do coral Tapé Mirim (Pequeno Caminho) que reúne em cantos e danças feitas por pessoas de todas as idades da aldeia, enfeitadas com adornos criativos extraídos da mãe natureza, como brincos, colares e óleos essenciais para suas pinturas corporais. Assim, dançando e cantando com seus Karaí, dão um abraço ao seu ethos cultural, ou seja, seu jeito próprio de se sentir o povo das palavras sem males que se move nos peabiru, caminhos da terra, em nome de Tupã, o grande criador.

A nova Cacique e as AÇÕES JÁ

Sua autonomia aparece como foco da Semana Cultural PEJU KATU NHEMOMBARAETE (Venha se fortalecer!). De um lado, elegendo com lucidez o Meio Ambiente como tema-foco da semana cultural em 2012. Além de aprofundar o tema da relação com a natureza como relação parental, o povo da nova cacique Eunice Antunes assume o que chamam de AÇÕES JÁ em favor do cuidado e da cura do bioma da Mata Atlântica naquele pedaço agora definitivamente demarcado para o guarani após o processo que transitou em julgado em dezembro de 2010.

Os guarani deixaram de propósito para esse 19 de abril a atividade de plantio de árvores nativas começando pelas margens da Br 101. Querem substituir aos poucos as plantas nativas em lugar das "intrusas tipo pinus" como diz o programa do Grupo Biodiversidade AÇÃO JÁ. E explicam:"Entendemos que bio é vida e diversidade são todas as espécies de vidas que convivem uns com outros."

O grupo de jovens da aldeia leva adiante mais um movimento AÇÃO JÁ que é também outra expressão endocultural. "Vamos limpar a aldeia e organizar a coleta de lixo, retirada dos Pinus sp.e vamos fazer reflorestamento com árvores nativas e escrever um relatório com o levantamento dos males causados pela BR 101. Essas ações se justificam, pois há anos e anos a comunidade procura soluções para os problemas, mas nunca foi feito uma ação direta da aldeia para fora. Sempre foram feitos de fora para dentro e nós sempre acreditávamos nas falas dos brancos e até hoje continuamos com os mesmos problemas e reivindicando as mesmas coisas. Por isso nós da comunidade do Morro dos Cavalos estamos fazendo esse movimento chamado de AÇÃO JÁ."
Venham tod@s! É a aculturação guaranítica.

Essa autoestima e autonomia cultural do guarani, porém, se reveste de um caráter de abertura para o outro: de aculturação. Por isso o AÇÃO JÁ começou no sábado com um grande mutirão de limpeza do lixo. Estavam presentes os guarani, os grupos de jovens, universitários e a Polícia Ambiental que tem interagido com frequência na aldeia.

Nesse sentido é bom lembrar o antropólogo Bartomeu Meliá quando diz que no jeito de ser do guarani se respira universalidade, aquele jeito que muitas vezes admiramos em alguns povos orientais. O guarani é aberto à convivência e em mais essa semana tem acolhido alunos de muitas escolas e muitos grupos de amigos solidários com sua luta.



Cunumim (menina) Guarani da Aldeia Itaty da TI Morro dos Cavalos. Refazendo o bioma da Mata Atlântica com plantio de Pindó (palmeira sagrada guarani).

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